Brasília e a possibilidade de um urbanismo não utópico
DOI:
https://doi.org/10.24220/2318-0919v19e2022a5273Resumo
O urbanismo contemporâneo tem por referência dominante o modelo da cidade compacta, usado para desqualificar o fenômeno do espraiamento urbano em prol de determinado modo de vida e organização espacial considerados mais compatíveis com os atuais princípios do desenvolvimento sustentável. Essa referência à cidade compacta assim como os
critérios de valor e de validade que ela estabelece em termos de qualidade urbana remetem à crítica feita às utopias futuristas do urbanismo moderno pelos defensores de um retorno aos princípios espaciais da cidade tradicional como solução para o crescimento urbano exponencial e disperso. Servindo-nos de uma análise dos diferentes aspectos utópicos do projeto para o Plano Piloto de Brasília assim como das críticas que foram erguidas contra ele, pretendemos mostrar, à luz do conceito de retrotopia cunhado por Zygmunt Bauman, que estas mesmas críticas adotam um referencial nostálgico não menos utópico. Essa análise, alimentada pela definição da
própria noção de projeto, nos conduz então a levantar um questionamento sobre a possibilidade de um urbanismo não-utópico ao qual respondemos com uma reflexão que mobiliza o conceito de atopia proposto por Byung-Chul Han. A partir dele, ensaiamos algumas pistas para a construção de uma abordagem que seja menos refém da armadilha utópica e da lógica dicotômica que parece sempre fugir da realidade presente, a fim de transformar Brasília em uma referência útil para poder lidar com a complexidade da discussão sobre forma urbana e os desafios inerentes à cidade do século XXI.
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