Vendo outras paisagens dos “certoens” do norte, séculos XVII-XIX
DOI:
https://doi.org/10.24220/2318-0919v13n1a3218Palavras-chave:
Cartografia. Cultura material. Paisagem. Sertões do Norte. Urbanização.Resumo
A paisagem do sertão nordestino brasileiro tem recebido, por muito anos, da historiografia tradicional, da literatura e da cinematografia, julgamentos parciais cristalizados em adjetivos como vazio, inerte, rustico e penitente. Por baixo desse rotulo uniforme conhecido por muitos, existiram outros matizes, outros espaços e paisagens os quais necessitam ser expostos as vistas, no sentido de participar do quebra-cabeças da história brasileira, parcialmente forjada pelas elites intelectuais. Na contramão dessas imagens corriqueiras, este ensaio discute a construção e as representações das “outras” paisagens dos “Certens” do Norte entre os séculos XVII e XIX. Busca‑se, através do cruzamento entre imagem (cartografia) e texto (documentos manuscritos oficiais), expor cotidianos ocultos dessas zonas interiorizadas, isto e, evocar o seu dinamismo social, econômico, cultural e político pouco visto e homogeneizado no “ciclo do couro” de Capistrano de Abreu. Analisa‑se algumas especificidades hermenêuticas da paisagem oriundas de diferentes campos do saber, em especial a Arqueologia, a Fenomenologia e a Geografia Cultural.
PALAVRAS‑CHAVE: Cartografia. Cultura material. Paisagem. Sertões do Norte. Urbanização.
Downloads
Referências
AGBE‑DAVIES, A.; BAUER, A.A. Rethinking trade as a social activity: An introduction. In: AGBE‑DA‑
VIES, A.; BAUER, A.A. (Ed.). Social archeology of trade and exchange: Exploring relations among
people, places, and things. Walnut Creek: Left Coast Press, 2010. p.13‑28.
ANDERSON, B. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2011.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “ATA (cópia) da reunião da Junta composta
pelo governador, D. Francisco Martins Mascarenhas de Lencastro, o bispo D. Frei Francisco de
Lima, o ouvidor geral Manoel da Costa Ribeiro, o provedor da Fazenda Real, Inácio de Moraes Sar‑
mento e o procurador da Coroa e Fazenda, Antônio Rodrigues Pereira, da capitania de Pernambuco,
sobre a forma que se deve ter com as datas das sesmarias, foro e arrecadação”. Arquivo Histórico
Ultramarino de Lisboa, 1699, Cx. 18, D. 1777.
ARQUIVO Histórico Ultramarinode Lisboa. “CARTA Régia do rei, D. Pedro II, ao governador da
capitania de Pernambuco, Caetano de Melo de Castro, ordenando as normas para o povoamento e assen‑
tamento de datas de terras no sertão”. Arquivo Histórico Ultrmarino de Lisboa, 1699, Cx. 18, D. 1771.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “CARTA do vice‑rei e governador geral do Bra‑
sil, Vasco Fernandes Cesar de Menezes ao rei [D. João V] comunicando as diligências em que
mandou efetuar o coronel Pedro Barbosa sobre os particulares e dependências de jacobina”. Arquivo
Histórico Ultramarino de Lisboa, 1721, Cx. 15, D. 1338.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei
D. Pedro II, sobre o caminho que se descobriu e se abriu do Maranhão para a Bahia”. Arquivo His‑
tórico Ultramarino de Lisboa, 1696, Cx. 9, D. 906.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei
D. Pedro II, sobre o requerimento dos povoadores e descobridores dos sertões do Piauí, solicitando
a posse das terras que cada um tivesse descoberto e fosse descobrindo, pagando apenas o foro à
fazenda real”. Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, 1697, Cx. 1, D. 04.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “IDEIA da População da Capitania de Pernam‑
buco, e das suas annexas, extensão de suas Costas, Rios, e Povoações notaveis, Agricultura, numero
dos Engenhos, Contractos, e Rendimentos Reaes, augmento que estes tem tido &.a&.a desde o
anno de 1774 em que tomou posse do Governo das mesmas Capitanias o Governador e Capitam
General Jozé Cézar de Menezes”. In: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO.
v.40. ano 1918. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1923.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “OFÍCIO do vice rei, Athouguia, expondo as
dificuldades que o desembargador Agostinho Felix dos Santos Campello apresentava para realizar
a sua viagem para Goiás, como lhe fora ordenado, informando que a despesa era grande, por causa
da enorme distancia a percorrer, da inclemência dos caminhos e do clima e dos assaltos dos gentios
que tornavam necessário ir aquele magistrado bem acompanhado e provido de todos os recursos”.
Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, 1751, Cx. 2, D. 173.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “OFÍCIO do [desembargador], Francisco Mar‑
celino de Gouveia, ao secretáro de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costa Corte
Real, sobre a falta de meios dos senhores das fazendas e moradores do Piauí para o seu desenvolvi‑
mento”. Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, 1760a, Cx. 6, D. 400.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “OFÍCIO do engenheiro, Henrique António
Gallucio, ao de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, sobre
as configurações geométricas que efetuou de toda a costa marítima, desde o Pará ao Maranhão e
capitania do Piauí, para elaboração de cartas geográficas da capitania, enviando um requerimento
a solicitar a sua nomeação para o cargo de sargento‑mor engenheiro, com soldo dobrado”. Arquivo
Histórico Ultramarino de Lisboa, 1760b, Cx. 7, D. 437.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “OFÍCIO do ouvidor da capitania de Pernam‑
buco, Antônio Moraes Teixeira Homem, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Martinho
de Melo e Castro, sobre a situação da justiça nos julgados da comarca de Olinda, Garanhuns, Ta‑
caratu, Pajeú e Cabrobó, e sugerindo sua elevação de todas à vila, e informando o desenvolvimento
comercial de Paudalho e de Santo Antão da Mata e a necessidade de transformá‑las em vilas a fim
de melhorar a aplicação da justiça na dita capitania”. Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa,
, Cx. 160, D. 11530.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “RELAÇÃO dos sítios povoados na região da
chapada para dentro”. Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, 1720, Cx. 10, D. 1066.
ARQUIVO Histórico Ultramarino de Lisboa. “REQUERIMENTO do coronel Garcia de Ávila
Pereira ao rei, D. João V, solicitando ordenar ao vice rei do Brasil que enviei um ouvidor a Jacobina
para averiguar os danos ali ocorridos e criar uma aldeia no sitio das Alagoas ou junto a igreja de Santo
Antônio”. Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, 1723, Cx. 1722, D. 1484.
ARRAES, D.E.A.A. Curral de reses, curral de almas: urbanização do sertão nordestino entre os séculos
XVII e XIX. 2012. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2012.
ARRAES, E. Rio dos currais: paisagem material e rede urbana do rio São Francisco nas capitanias da
Bahia e Pernambuco. Anais do Museu Paulista, v.21, n.2, p.47‑77, 2013.
BENDER, B. Landscape and politics. In: BUCHLI, V. (Ed.). The material culture reader. Oxford and
New York: Berg, 2002. p.303‑314.
BESSE, J.‑M. O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2014.
BLUTEAU, R. Vocabulario Portuguez e latino, aulico, anatomico, architectonico, bellico, botanico (…)
autorizado com exemplos dos melhores escritores portuguezes e latinos e offerecidos a El Rey de Portugal
D. João V. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712‑1728. v.8 Disponível em:
<http://www.bbm.usp.br>. Acesso em: 9 set. 2015.
BURKE, P. O que é História cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CARRERI, F. Walkscape: el andar como práctica estética. Barcelona: Gustavo Gili SA, 2002.
CLAVAL, P. A paisagem dos geógrafos. In: CORRÊA, R.L.; ROSENDAHL, Z. Geografia cultural: uma
antologia. ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro: UERJ,
v.1. p.245‑276.
COUTO, D.L. Desagravos do Brazil e glórias de Pernambuco. Discursos brasílicos, dogmáticos, béli‑
cos, apologéticos, moraes e históricos. In: ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO.
v.26, tomo 1. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1904.
COSGROVE, D. Social Formation and Simbolic Landscape. Madison: University of Wisconsin
Press, 1984.
DUNCAN, J. The city as text: The politics of landscape interpretation in the Kandyan kingdom.
Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
ENNES, E. A guerra dos Palmares. Rio de Janeiro: Cia. Editora Nacional, 1938.
FONSECA, J.J. Rodelas: curraleiros, índios e missionários. Salvador: Impressão do autor, 1996.
GALINDO, M. O governo das almas: a expansão colonial do país dos Tapuia (1651‑1798). 2004. Tese
(Doutorado) — Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2004.
GARDNER, G. Viagem ao interior do Brasil, principalmente nas províncias do Norte e nos distritos do
ouro e do diamante durante os anos de 1836‑1841. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.
GUTIÉRREZ, R. Reflexiones para una metodologia de análisis del barroco americano. In: Simpo‑
sio Internazionale sul Barocco Latino Americano, Atti Del Simposio. Roma: Instituto Ítalo Latino
Americano, 1982.
HARLEY, J.B. La nueva naturaleza de los mapas: ensayos sobre la historia de la cartografia. Cidade do
México: Fondo de Cultura Econômica, 2005.
HOSKINS, W.G. The making of the English landscape. Harmondsworth: Penguin, 1985.
LAZZARI, M. Landscape of circulation in Northwest Argentina: workings of Obsidian and ceramics
during the first millenium. In: AGBE‑DAVIES, A.; BAUER, A.A. (Ed.). Social archeology of trade and
exchange: Exploring relations among people, places, and things. Walnut Creek: Left Coast Press,
p.49‑68.
LEPETIT, B. Por uma nova história urbana. São Paulo: Edusp, 2001.
LÖFGREN, A. Contribuição para a questão florestal da região do Nordeste do Brazil. 2.ed. Rio de
Janeiro: Imprensa Ingleza, 1923.
MARTINS, F.A.O. Um herói esquecido (João da Maia da Gama). Lisboa: Divisão de Publicações e
Biblioteca Agência Geral das Colónias, 1944. v.2.
MITCHELL, W.J.T. Imperial landscape. In: MITCHELL, W.J.T (Ed.). Landscape and power. 2nd.
Chi‑
cago and London: The University of Chicago Press, 2002. p.1‑20.
NANTES, padre M.O.F.M. Relação de uma missão no rio São Francisco: relação sucinta e sincera da
missão do padre Martinho de Nantes, pregador capuchinho, missionário apostólico no Brasil entre
os índios chamados cariris. São Paulo: Editora Nacional, 1979.
NEVES, E.F. et al. Caminhos do sertão: ocupação territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais
nos sertões da Bahia. Salvador: Arcadia, 2007.
ROSA, G. Grandes sertões, veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
ROTEIRO do Maranhão a Goiaz pela Capitania do Piauhi. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, Tomo LXII, v.99, 1900.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4.ed. São Paulo: Edusp, 2009.
SILVA, A.M. Diccionario da Lingua Portugueza: recompilado dos vocabularios impressos ate agora, e
nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado. Lisboa: Tipographya Lacerdina,
Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br>.
SPIX, J.B. von; MARTIUS, C.F.P. von. Viagem pelo Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. v.2.
VILHENA, L.S. Recopilação de noticias soteropolitanas e brasílicas. Salvador, 1802. v.1. Disponível
em: <http://www.bndigital.bn.br>. Acesso em: 1 nov. 2011.
WOOD, D. The nature of maps: Cartographic constructions of the natural world.Chicago: University
Chicago Press, 2008.