Tratamento da anemia ferropriva com ferro quelato glicinato e crescimento de crianças na primeira infância

Autores

  • Luciana Cisoto RIBEIRO Universidade de São Paulo
  • Dirce Maria SIGULEM Universidade Federal de São Paulo

Palavras-chave:

Agentes quelantes de ferro, Anemia ferropriva, Crescimento, Pré-escolar

Resumo

Objetivo
Avaliar a resposta à suplementação diária com ferro quelato glicinato e seu impacto sobre o crescimento linear.

Métodos
Realizou-se um estudo prospectivo com 790 crianças, de 6 a 36 meses, que freqüentavam creches municipais de São Paulo no período de 1999 a 2003. Ao início e ao final do estudo a hemoglobina, o peso corporal e a estatura/comprimento foram coletados. Utilizou-se suplemento contendo ferro quelato glicinato em gotas na dose de 5mg Fe elementar/kg peso/dia, administrado na própria instituição pelo profissional de saúde da creche, por um período de 12 semanas.

Resultados
A suplementação resultou em um significante e positivo efeito sobre os níveis de hemoglobina. A resposta ao tratamento foi positiva em 85,3% das crianças, com um aumento médio de 1,6g/dL nos valores de hemoglobina (p<0,001). Nas crianças de 25-36 meses e naquelas com valores de hemoglobina mais baixas ao início da suplementação, observou-se ganho significantemente maior. Durante o período de intervenção não foi observada nenhuma intercorrência gastrintestinal ou intolerância ao suplemento. Verificou-se também impacto sobre o ganho de estatura e o indicador nutricional estatura/idade (escore-Z) nas crianças com idade acima de 12 meses, porém o mesmo não foi observado em relação ao peso e aos indicadores peso/estatura e peso/idade.

Conclusão
Os resultados indicam que o ferro quelato glicinato é um suplemento adequado para tratamento da anemia ferropriva em crianças na primeira infância, pela sua excelente tolerabilidade contribuindo também para o ganho de estatura entre crianças acima de 12 meses. 

Referências

Demaeyer EM. Preventing and controlling iron deficiency anemia through primary health care. Geneve: WHO; 1989.

World Health Organization. Iron deficiency anaemia: assessment, prevention and control, a guide for programme managers. Geneve: WHO; 2001.

Sigulem DM, Tudisco ES, Goldemberg P, Athaide MMM, Vaisman E. Anemia ferropriva em crianças do município de São Paulo. Rev Saúde Pública. 1978; 12(2):168-78.

Monteiro CA, Szarfarc SC, Mondini L. Tendência secular da anemia na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev Saúde Pública. 2000; 34(Supl. 6):62-72.

Perez JL, Gonçalves BPB, Figueiroa FV, Barreto LL, Medeiros JJA, Perez EP, et al. Anemia em crianças menores de 3 anos: estudo em creches do Recife, PE. Rev IMIP. 1998; 12(1):19-24.

Brunken GS, Guimarães LV, Fisberg M. Anemia em crianças menores de 3 anos que freqüentam creches públicas em período integral. J Pediatr (Rio Janeiro) 2002; 78(1):50-6.

Almeida CAN, Ricco RG, Del Ciampo LA, Souza AM, Pinho AP, Oliveira JED. Fatores associados à anemia por deficiência de ferro em crianças préescolares brasileiras. J Pediatr (Rio Janeiro). 2004; 80(3):229-34.

Rivera FA, Walter TK. Efeito de la anemia ferropriva en la lactante sobre el desarrollo psicologico del escolar. J Pediatr (Rio Janeiro). 1997; 73(Supl. 1):S49-S54.

United Nations Children’s Fund. Preventing iron deficiency in women and children: background and consensus on key technical issues and resources for advocacy, planning and implementing national programmes. New York: Unicef; 1998. Technical Workshop Section 7.

Stekel A, editor. Iron nutrition in infancy and childhood. New York: Raven Press; 1984. Nestlé Nutrition Worshop Series, v.4.

Olivares MG, Pizarro FA, Pineda O, Name JJ, Hertrampt E, Walter T. Milk inihibits and acid favors ferrous bis-glycine chetate bioavailability in humans. J Nutr. 1997; 127(7):1407-11.

Fox TE, Eagles J, Fairweather-Tait JS. Bioavailability of iron glycine as a fortificant in infant foods. Am J Clin Nutr. 1998; 67(4):664-8.

Coplin M, Schuette S, Leitchtmann G, Lashner B. Tolerability of iron: a comparison of bis-glycino iron II and ferrous sulfate. Clin Ther. 1991; 13(5): 606-12.

Layrisse M, García-Casal MN, Solano L, Barón MA, Arguello F, Llovera D, et al. Iron bioavailability in humans from breakfasts enriched with iron bisglycine chelate, phytates and polyphenols. J Nutr. 2000; 130(9):2195-9.

Organización Mundial de la Salud. Medición del cambio del estado nutricional: directrices para evaluar el efecto nutricional de programas de alimentación suplementaria destinados a grupos vulnerables. Genebra: OMS; 1983.

Berger J, Dyck JL, Galan P, Aplogan A, Scheider D, Traissac P, et al. Effect of daily iron supplementation on iron status, cell-mediated immunity, and incidence of infections in 6-36 month old Togolese children. Eur J Clin Nutr. 2000; 54(1):29-35.

Devincenzi MU. Anemia ferropriva na primeira infância: intervenção com atenção primária à saúde em comunidades carentes [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina; 1999.

Silva LSM, Giugliani ERJ, Aerts DRGC. Prevalência e determinantes de anemia em crianças de Porto Alegre, RS, Brasil. Rev Saúde Pública. 2001; 35(1): 66-73.

Morais MB, Suzuki HV, Machado NL, Fagundes Neto, U. Avaliação de um teste simples de absorção intestinal de ferro na deficiência de ferro. J Pediatr (Rio Janeiro). 1992; 68(1/2):48-53.

Fomon SJ, Nelson SE, Ziegler EE. Retention of iron by infants. Ann Rev Nutr. 2000; 20(1):273-90.

Szarfarc SC, Berg G, Santos ALS, Souza SB, Monteiro CA. Prevenção de anemia no primeiro ano de vida em centros de saúde do município de Santo André, São Paulo. J Pediatr (Rio Janeiro).1996; 72(5): 329-34.

Majumdar I, Paul P, Talib VH, Ranga S. The effect of iron terapy on the growth of iron replete and irondeplete children. J Trop Pediatr. 2003; 49(2):84-8.

Aukett MA, Parks YA, Scott PH, Wharton BA. Treatment with iron increases weight gain and psychomotor development. Arch Dis Child. 1986; 61(9):849-57.

Morais MB, Ferrari AA, Fisberg M. Effect of iron therapy on physical growth. Rev Paul Med. 1993; 111(6):439-44.

Angeles IT, Schultink WJ, Matulessi P, Gross R, Sastroamidjojo S. Decreased rate of stunting among anemic Indonesian preschool childrean trough iron supplementation. Am J Clin Nutr. 1993; 58(3):339-42.

Rosado JL. Separate and joints effects of micronutrients deficiencies on linear growth. J Nutr. 1999; 129(2):531S-3.

Rivera JA, González-Cossío T, Floresa M, Romero M, Rivera M, Téllez-Rojo MM, et al. Multiple micronutrient supplementation increases the growth of Mexican infants. Am J Clin Nutr. 2001; 74(5):657-63.

Rahrnan MM. Long term supplementation with iron does not enhance growth in malnourished Bangladeshi children. J Nutr. 1999; 129(7):1319-22.

Bhandari N, Bahl R, Tanela S. Effect of micronutient supplementation on linear growth of children. Br J Nutr. 2001; 85(Suppl. 2):S131-7.

Topaloglu AK, Hallioglu O, Canim A, Duzovali O, Yilgor E. Lack of association between plasma leptin levels and appetite in children with iron deficiency. Nutrition. 2001; 17(7-8):657-9.

Downloads

Publicado

04-09-2023

Como Citar

Cisoto RIBEIRO, L., & SIGULEM, D. M. (2023). Tratamento da anemia ferropriva com ferro quelato glicinato e crescimento de crianças na primeira infância. Revista De Nutrição, 21(5). Recuperado de https://seer.sis.puc-campinas.edu.br/nutricao/article/view/9602

Edição

Seção

ARTIGOS ORIGINAIS