Adoção tardia por casal divorciado e com filhos biológicos

novos contextos para a parentalidade

Autores

  • Livia Kusumi OTUKA Ministério Público do Estado de São Paulo
  • Fabio SCORSOLINI-COMIN Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Departamento de Psicologia
  • Manoel Antônio dos SANTOS Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Departamento de Psicologia.

Palavras-chave:

Adoção tardia, Parentalidade, Psicanálise, Relações conjugais

Resumo

O objetivo deste estudo de caso é discutir a experiência de um casal divorciado, com filhos biológicos, que realizou uma adoção tardia. Os dados foram coletados por meio de entrevista individual semiestruturada e analisados mediante o referencial teórico da psicanálise winnicottiana. Os resultados mostraram que, após três anos divorciados, os participantes adotaram um adolescente, destacando como motivação o altruísmo. Em termos do amadurecimento emocional dos membros do casal divorciado, nota- -se que eles renovaram o bom vínculo preexistente não apenas mediante o exercício da parentalidade adotiva, mas também pelo “desejo de ajudar” o adolescente por meio de sua inserção em um núcleo familiar. Nas falas dos pais, pôde-se perceber que a noção de família transcende a ideia de um simples arranjo nuclear tradicional constituído em torno do casal, uma vez que a conjugalidade não foi mencionada como condição para a adoção. Em contrapartida, a conjugalidade foi valorizada como condição para o nascimento do primeiro filho biológico, denotando que são atribuídas diferentes significações à parentalidade biológica e adotiva.

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Publicado

2013-03-31

Como Citar

OTUKA, L. K., SCORSOLINI-COMIN, F., & SANTOS, M. A. dos. (2013). Adoção tardia por casal divorciado e com filhos biológicos: novos contextos para a parentalidade. Estudos De Psicologia, 30(1). Recuperado de https://seer.sis.puc-campinas.edu.br/estpsi/article/view/8597