A cidade fragmentada e os fragmentos do eu: a literatura de si em O cemitério dos vivos, de Lima Barreto

Autores

  • Maria da Conceição Coelho Ferreira Université Lumière Lyon 2
  • Ana Carolina Nery Albino Université Lumière Lyon 2

DOI:

https://doi.org/10.24220/2595-9557v2n2a4688

Palavras-chave:

Heterotopia. Lima Barreto. Literatura de si. O Cemitério dos vivos.

Resumo

No início do século XX, o Rio de Janeiro passou por transformações radicais graças a uma
modernização artificial, que impediu a livre circulação no centro e conduziu indivíduos à
margem. O afastamento social, de todo modo, também se constrói a partir da criação
de espaços outros, que serão denominados heterotópicos, para enquadrar justamente
aqueles que não podem ser encaixados nessa lógica pensada para a cidade. Em 1919,
Lima Barreto foi internado no Hospital Nacional dos Alienados e começou a registrar
sua experiência em notas que compuseram O Diário do Hospício de 1953, material de
base para a escrita de um romance. A ameaça constante de enlouquecimento a que
foi submetido o autor, quando encerrado nas dependências do hospício, reforçou ainda
mais o desejo de afirmar sua lucidez por meio da escrita. O registro de si nesse ambiente
funciona, assim, como a criação de uma ocupação necessária para sentir-se pertencente
ao mundo, produzindo, através da feitura de um romance, uma paisagem literária em
que questões subjetivas de sua miséria individual são transformadas numa questão
coletiva. O Cemitério dos Vivos de 1956 surge, assim, como texto híbrido e fragmentário,
em que o universo manicomial e seu funcionamento servem como reflexão sobre seu
processo de marginalização, correspondente ao processo de marginalização de tantos
outros. Propõe-se, a partir das questões levantadas, uma compreensão desse romance
inacabado e publicado postumamente, a partir de uma leitura que contrasta o sentimento
de exclusão e deslocamento, superados por uma forma de pertencimento encontrada
através da Literatura.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria da Conceição Coelho Ferreira, Université Lumière Lyon 2

Faculté des langues | Département
d’études des mondes Hispanophone et Lusophone | 86
Rue Pasteur, 69007, Lyon, França | Correspondência
para/Correspondence to: M.C.C. FERREIRA | E-mail:
<mcoelhof.lyon2@gmail.com>.

Ana Carolina Nery Albino, Université Lumière Lyon 2

Université Lumière Lyon 2
| Faculté des langues | Département d’études des
mondes Hispanophone et Lusophone | Lyon, França.

Referências

BACHELARD, G. La poétique de l’espace. Paris : PUF,

p.169.

BARRETO, L. Diário do hospício; O cemitério dos

vivos. In: MASSI, A.; MOURA, M.M. (Org.). São

Paulo: Cosac Naify, 2010. p.43-297.

BESANÇON, G. L’écriture de soi. Paris: L’Harmattan,

DOUBROVSKY, S. Fils: Paris: Galillée, 1977.

DURAS, M. Ecrire. Paris: Gallimard, 1993. p.24.

FOUCAULT, M. Naissance de la clinique: Une archéologie

du regard médical. Paris: PUF, 1972.

FOUCAULT, M. Le Corps utopique, les hétérotopies.

Fécamp: Lignes, 2004. p.24.

HIDALGO, L. Lima Barreto e a literatura da urgência:

a escrita do extremo no domínio da loucura. 2007.

f. Tese (Doutorado em Literatura Comparada) —

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2007.

LEJEUNE, P. Le pacte autobiographique. Paris: Seuil,

NANCY, J-L. Paysage avec dépaysement. In: NANCY,

J-L. Au fond des images. Paris: Galilée, 2003. p.112.

RESENDE, B. Diamantes descartados. Revista Serrote,

v.26 ½, p.1-21, 2017.

SEVCENKO, N. Literatura como missão: tensões

sociais e criação cultural na Primeira República. São

Paulo: Companhia das Letras, 2003. p.43.

Downloads

Publicado

2019-12-02

Como Citar

Ferreira, M. da C. C., & Nery Albino, A. C. (2019). A cidade fragmentada e os fragmentos do eu: a literatura de si em O cemitério dos vivos, de Lima Barreto. Pós-Limiar | Título não-Corrente, 2(2), 189–201. https://doi.org/10.24220/2595-9557v2n2a4688

Edição

Seção

Dossiê Escritas de Si na Contemporaneidade: Pactos e Desdobramentos