Violência física entre parceiros íntimos e baixo peso ao nascer em recém nascidos atendidos em unidades básicas de saúde da cidade do Rio de Janeiro
Palavras-chave:
Peso ao nascer, Nutrição, Maus-tratos conjugais, ViolênciaResumo
Objetivo
Investigar a associação da violência física entre parceiros íntimos e a ocorrência de baixo peso ao nascer.
Métodos
Estudo seccional com 604 crianças com cerca de 30 dias que compareceram a quatro unidades de saúde do município do Rio de Janeiro, Brasil, para realização da segunda dose da vacina contra hepatite B. Crianças nascidas com peso inferior a 2,500 g foram consideradas baixo peso. Informações referentes à violência física entre parceiros íntimos foram obtidas por meio da versão em português do instrumento Conflict Tactics Scale. O período de tempo investigado referiu-se aos 12 meses anteriores à entrevista. A violência física entre parceiros íntimos foi analisada de maneira dicotômica e cumulativa. As associações entre violência física entre parceiros íntimos e baixo peso ao nascer foram verificadas via modelos de regressão logística, mediante estimativas de
razões de chances brutas e ajustadas e seus respectivos intervalos de 95% de confiança.
Resultados
Nasceram com baixo peso 7,1% das crianças e foram expostas à violência física entre parceiros íntimos 33,6% das mulheres estudadas. A violência física entre parceiros íntimos foi significativamente associada com o baixo peso ao nascer (OR=3,69; IC95%=1,57-8,66). Destaca-se que à medida que a gravidade da violência cresce, aumentam também as chances de ocorrência para o baixo peso ao nascer.
Conclusão
Esses achados chamam a atenção para as consequências da violência física entre parceiros íntimos no estado nutricional do recém nato, e apontam para necessidade de maior atenção durante os cuidados do pré-natal, visando à melhoria da qualidade de vida da mulher assim como à diminuição de nascimentos de baixo peso.
Referências
World Health Organization. Global Nutrition Targets 2025: Low birth weight policy brief. Geneva: WHO; 2014.
Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS - Departa mento de Informática do SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
World Health Organization. Newborn & Child Health. Save the Children, WHO. Born too soon: The global action report on preterm birth. Geneva: WHO; 2012 [cited 2005 Dec 11]. Available from: http://whqlibdoc.who.int/publications/2012/978 9241503433_eng.pdf
Santos DN, Assis AMO, Bastos ACS, Santos LM, Santos CA, Strina A, et al. Determinants of cognitive function in childhood: A cohort study in a middle income context. BMC Public Health. 2008; 6(8):202. http://dx.doi.org/10.1186/1471-2458-8- 202
Alexander BT, Dasinger JH, Intapad S. Low birth weight: Impact on women’s health. Clin Therapeutics. 2014; 36(12):1913-23. http://dx.doi.org/10.1016/ j.clinthera.2014.06.026
Yu ZB, Han SP, Zhu GZ, Zhu C, Wang XJ, Cao XG, et al. Birth weight and subsequent risk of obesity: A systematic review and meta-analysis. Obes Rev. 2011; 12(7):525-42. http://dx.doi.org/10.1111/j.14 67-789X.2011.00867
Pedraza DF. Baixo peso ao nascer no Brasil: revisão sistemática de estudos baseados no sistema de informações sobre nascidos vivos. Rev Atenção Saúde. 2014; 12(41):37-50. http://dx.doi.org/10.13 037/rbcs.vol12n41.2237
Barbas DS, Costa AJL, Luiz RR, Kale PL. Determi nantes do peso insuficiente e do baixo peso ao nascer na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, 2001. Epidemiol Serv Saúde. 2009; 18(2):161-70. http:// dx.doi.org/10.5123/S1679-49742009000200007
Viana KJ, Taddei JAAC, Cocetti M, Warkentin S. Peso ao nascer de crianças brasileiras menores de dois anos. Cad Saúde Pública. 2013; 29(2):349-56. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2013000 200021
Panaretto K, Mitchell M, Larkins S, Manessis V, Buettner P, Watson D. Risk factors for preterm, low birth weight and small for gestational age birth in urban Aboriginal and Torres Strait Islander women in Townsville. Aust N Z J Public Health. 2006; 30(2):163-70. http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-84 2X.2006.tb00111
Fried LE, Cabral H, Amaro H, Aschengrau A. Lifetime and during pregnancy experience of violence and the risk of low birth weight and preterm birth. Midwifery. 2008; 53(6):522-8. http://dx.doi.org/10. 1016/j.jmwh.2008.07.018
Audi CA, Corrêa MAS, LatorreMRDO, Santiago SM. Associação entre violência doméstica na gestação e peso ao nascer ou prematuridade. J Pediatr. 2008; 84(8):60-7. http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75 572008000100011
Yost NP, Bloom SL, McIntire DD, Leveno KJ. A prospective observational study of domestic violence during pregnancy. Obstet Gynecol. 2005; 106(1):61-5. http://dx.doi.org/10.1097/01.AOG.0 000164468.06070.2a
Yang MS, Ho SY, Chou FH, Chang SJ, Ko YC. Physical abuse during pregnancy and risk of low birth weight infants among aborigines in Taiwan. Public Health. 2006; 120:557-62.
Abdollahi F, Abhari FR, Delavar MA, Charati JY. Physical violence against pregnant women by an intimate partner, and adverse pregnancy outcomes in Mazandaran Province, Iran. J Family Community Med 2015; 22(1):13-8. http://dx.doi.org/10.4103/ 2230-8229.149577
Hasselmann MH, Reichenheim ME. Adaptação transcultural da versão em português da Conflict Tactics Scales Form R (CTS-1), usada para aferir violência no casal: equivalências semântica e de mensuração. Cad Saúde Pública. 2003; 19(4):1083-93. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2003000 400030
Reichenheim ME, Harpham T. Perfil intra-comu nitário da deficiência nutricional: um estudo de crianças abaixo de 5 anos numa comunidade de baixa renda do Rio de Janeiro. Rev Saúde Pública. 1990; 24,69-79. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89 101990000100011
Institute of Medicine. Weight gain during pregnancy: Reexamining the guidelines. Washington (DC): Institute of Medicine; 2009 [cited 2010 Feb 22]. Available from: http://www.nap.edu/catalog/125 84.html
Griep RH, Chor D, Faerstein E, Werneck GL, Lopes CS. Validade de constructo de escala de apoio social do Medical Outcomes Study adaptada para o português no Estudo Pró-Saúde. Cad Saúde Públi ca. 2005; 21(3):703-14. http://dx.doi.org/10.1590/S 0102-311X2005000300004
Chor D, Griep RH, Lopes CS, Faerstein E. Medidas de rede e apoio social no Estudo Pró-Saúde: pré- -testes e estudo piloto. Cad Saúde Pública. 2001; 17(4):887-96. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-31 1X2001000400022
World Health Organization. World Health Statistics. Geneva: WHO; 2012.
Pedraza DF, Rocha, ACD, Cardoso, MVLML. As sistência pré-natal e peso ao nascer: uma análise no contexto de unidades básicas de saúde da fa mília. Rev Bras Ginecol Obstet. 2013; 35(8):349-56. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-7203201300 08 00003
Caldas DB, Silva ALR, Boing E, Crepaldi A, Custódio ZAO. Atendimento psicológico no pré-natal de alto- -risco: a construção de um serviço. Psicol Hosp. 2013; 11(1):66-87.
Reichenheim ME, Moraes CL, Szklo A, Hasselmann MH, Souza ER, Lozana JÁ, et al. The magnitude ofintimate partner violence in Brazil: Portraits from 15 capital cities and the Federal District. Cad Saúde Pública. 2006; 22:109-21. http://dx.doi.org/10. 1590/S0102-311X2006000200020
Garcia-Moreno C, Watts CH, WHO Multi-country Study on Women’s Health and Domestic Violence against Women Study Team. Prevalence of intimate partner violence: Findings from the WHO multi country study on women’s health and domestic violence. Lancet. 2006; 368(9543):1260-9. http:// dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006000200020
Durand JG, Schraiber LB. Violência na gestação entre usuárias de serviços públicos de saúde da Grande São Paulo: prevalência e fatores associados. Rev Bras Epidemiol. 2007; 10(3):310-22. http://dx. doi.org/10.1590/S1415-790X2007000300003
Lindner SR, Coelho EBS, Bolsoni CC, Rojas PF, Boing AF. Prevalência de violência física por parceiroíntimo em homens e mulheres de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil: estudo de base populacional. Cad Saúde Pública. 2015; 31(4):815-26. http://dx.doi. org/10.1590/0102-311X00159913
Wathen CN, MacGregor JCD, Hammerton J, Coben JH, Herrman H, Stewart DE. Priorities for research in child maltreatment, intimate partner violence and resilience to violence exposures: Results of an international Delphi consensus development process. BMC Public Health. 2012; 12:684. http:// dx.doi.org/10.1186/1471-2458-12-684
Valladares E, Ellsberg M, Pena R, Högberg U, Persson LA. Physical Partner Abuse During Pregnancy: A risk factor for low birth weight in Nicaragua. Obstet Gynecol. 2002; 100(4):700-5. http://dx.doi.org/10.1016/S0029-7844(02)02093-8
Asling-Monemi K, Naved RT, Persson LA. Violence against women and the risk of fetal and early childhood growth impairment: A cohort study in rural Bangladesh. Arch Dis Child. 2009; 94(10):775-9. http://dx.doi.org/10.1136/adc.2008.144444
Ferri CP, Mitsuhiro SS, Barros MCM, Chalem E, Guinsburg R, Patel V, et al. The impact of maternal experience of violence and common mental disorders on neonatal outcomes: A survey of adolescent mothers in São Paulo, Brazil. BMC Public Health. 2007; 16(7):209. http://dx.doi.org/10.1186/1471-2 4 58-7-209
Altarac MMD, Strobino D. Abuse during pregnancy and stress because of abuse during pregnancy and birth weight J Am Med Womens Assoc. 2002; 57(4):208-14. http://dx.doi.org/10.1186/1471-23 93-12-12
Thompson MP, Basile KC, Hertz MF, Sitterle D. Measuring intimate partner violence victimization and perpetration: A compendium of assessment tools. Atlanta (GA): Centers for Disease Control and Prevention; 2006.
Saul J, Duffy J, Noonan R, Lubell K, Wandersman A, Flaspohler P. Bridging science and practice in violence prevention: Addressing ten key challenges. Am J Community Psychol. 2008; 41:197-205. http:// dx.doi.org/10.1007/s10464-008-9171-2
Hamby S. Intimate partner and sexual violence research: Scientific progress, scientific challenges, and gender. Trauma Violence Abuse. 2014; 15(3):149-58. http://dx.doi.org/10.1177/1524838 014520723
Rondó PHC, Ferreira RF, Nogueira F, Ribeiro MC, Lobert H, Artes R. Maternal psychological stress and distress as predictors of low birth weight, prematurity and intrauterine growth retardation. Eur J Clin Nutr. 2003; 57:266-72. http://dx.doi.org/ 10.1038/sj.ejcn.1601526
Menezes TC, Amorim MMR, Santos LC, Faúndes A. A violência física doméstica e gestação: resul tados de um inquérito no puerpério. Rev Bras Ginecol Obstet. 2003; 25(5):309-16. http://dx.doi. org/10.1590/S0100-72032003000500002
Gartland D, Hemphill SA, Hegarty K, Brown SJ. Intimate partner violence during pregnancy and the first year postpartum in an Australian pregnancy cohort study. Matern Child Health J. 2011; 15(5):570-8. http://dx.doi.org/10.1007/s10995-0 10-0638-z
Mohammadhosseini E, Sahraean L, Bahrami T. Domestic abuse before, during and after pregnancy in Jahrom, Islamic Republic of Iran. East Mediterr Health J. 2010; 16(7):752-8.
Silverman JG, Decker MR, Reed E, Raj A. Intimate partner violence victimization prior to and during pregnancy among women residing in 26 U.S. states: Associations with maternal and neonatal health. Am J Obstet Gynecol. 2006; 195:140-8. http://dx. doi.org/10.1016/j.ajog.2005.12.052
Stampfel CC, Chapman DA, Alvarez AE. Intimate partner violence and posttraumatic stress disorder among high-risk women: Does pregnancy matter? Violence Against Women. 2010; 16(4):426-43. http://dx.doi.org/10.1177/1077801210364047
Straus MA, Gelles RJ, editors. Physical violence in American families: Risk factors and adaptations to violence in 8145 families. New Brunswick (NJ): Transaction Publisher; 1995. http://dx.doi.org/10. 2307/3340687
Reichenheim ME, Hasselmann MH, Moraes CL. Conseqüências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a ela boração de propostas de ação. Ciênc Saúde Colet. 1999; 4(1):109-21. http://dx.doi.org/10.1590/S1 413-81231999000100009
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Raquel de Souza MEZZAVILLA, Maria Helena HASSELMANN

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.