Compreendendo as mães de crianças vítimas de abuso sexual: ciclos de violência

Autores

  • Samara Silva dos SANTOS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Débora Dalbosco DELL’AGLIO Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Palavras-chave:

Abuso de criança, Mães, Traços de personalidades, Violência sexual

Resumo

O objetivo deste artigo é discutir as características de mães de crianças vítimas de abuso sexual, considerando aspectos como ajustamento emocional, multigeracionalidade e reações maternas frente à revelação. O abuso sexual infantil é considerado um problema de saúde pública e suas conseqüências têm sido foco de interesse de pesquisadores. Entretanto, poucos estudos têm se dedicado a explorar as características maternas envolvidas nesse complexo ciclo de violência. De modo geral, mães de crianças abusadas sexualmente não se configuram como as perpetradoras do abuso, mas de alguma forma encontram-se envolvidas, seja como vítimas ou testemunhas desta situação. Por outro lado, vários fatores influenciam as reações maternas frente à revelação do abuso, tais como a percepção de rede de apoio social e as características de personalidade da mãe, entre outros. Pesquisas têm demonstrado a continuidade da violência entre as gerações, apontando a necessidade de estudos longitudinais sobre o abuso sexual infantil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (2003). Relatório anual do sistema nacional de combate à exploração sexual infanto-juvenil. Rio de Janeiro: ABRAPIA.

Alexander, P. C., Teti, L., & Anderson, C. L. (2000). Childhood sexual abuse history and role reversal in parenting. Child Abuse & Neglect, 24 (6), 829-838.

Amendola, M. F. (2004). Mães que choram: avaliação psicodiagnóstica de mães de crianças vítimas de abuso sexual. In M. C. C. A. Prado (Org.), O mosaico da violência: a perversão na vida cotidiana (pp.103-169). São Paulo: Vetor.

Araújo, M. F. (2002). Violência e abuso sexual na família. Psicologia em Estudo, 7 (2), 3-11.

Azevedo, M. A., & Guerra, V. N. A. (1989). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. São Paulo: IGLU.

Banyard, V. L. (1997). The impact of childhood sexual abuse and family functioning on four dimensions of women's later parenting. Child Abuse & Neglect, 21 (11), 1095-1107.

Belsky, J. (1980). Child maltreatment: an ecological integration. American Psychologist, 35 (4), 320-335.

Belsky, J. (1993). Etiology of child maltreatment: a developmental-ecological analysis. Psychological Bulletin, 114 (3), 413-434.

Bolger, K. E., & Patterson, C. J. (2003). Sequelae of child maltreatment: vulnerability and resilience. In S. S. Luthar (Org.), Resilience and vulnerability: adaptation in the context of childhood adversities (pp.156-181). New York: Cambridge University Press.

Brendler, J., Silver, M., Haber, M., & Sargent, J. (1994). Doença mental, caos e violência: terapia com famílias à beira da ruptura. Porto Alegre: Artes Médicas.

Brito, R. C., & Koller, S. H. (1999). Desenvolvimento humano e redes de apoio social e afetivo. In A. M. Carvalho (Org.), O mundo social da criança: natureza e cultura em ação (pp.115-129). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Caminha, R. M. (2000a). A violência e seus danos à criança e ao adolescente. In Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (AMENCAR) (Org.), Violência doméstica (pp.43-60). Brasília: UNICEF.

Caminha, R. M. (2000b). Maus-tratos: o flagelo da violência. In V. L. Bemvenutti (Org.), Cadernos de extensão II (pp.37-53). São Leopoldo: Unisinos.

Cohen, C. (2000). O incesto. In M. A. Azevedo & V. N. A. Guerra (Orgs.), Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento (pp.211-225). São Paulo: Cortez.

Cohen, J. A., & Mannarino, A. P. (2000). Predictors of treatment outcome in sexually abused children. Child Abuse & Neglect, 24 (7), 983-994.

Cohen, T. (1995). Motherhood among incest survivor. Child Abuse & Neglect, 19 (2), 1423-1429.

De Antoni, C., & Koller, S. H. (2002). Violência doméstica e comunitária. In M. L. J. Contini, S. H. Koller & M. N. S. Barros (Orgs.), Adolescência & psicologia: concepções, práticas e reflexões críticas (pp.85-91). Rio de Janeiro: Conselho Federal de Psicologia.

Deblinger, E., Steer, R., & Lippmann, J. (1999). Maternal factors associated with sexually abused children's psychosocial adjustment. Child Maltreatment, 4 (1), 13-20.

Elliot, A. N., & Carnes, C. N. (2001). Reactions of nonoffending parents to the sexual abuse of their child: a review of the literature. Child Maltreatment, 6 (4), 314-331.

Faleiros, E. T. S. (2000). Repensando os conceitos de violência, abuso e exploração sexual de crianças e de adolescentes. Brasília: Unicef.

Farinati, F., Biazus, D. B., & Leite, M. B. (1993). Pediatria social: a criança maltratada. Rio de Janeiro: Medsi.

Flores, R. Z., & Caminha, R. M. (1994). Violência sexual contra crianças e adolescentes: algumas sugestões para facilitar o diagnóstico correto. Revista de Psiquiatria do RS, 16 (2), 158-167.

Forward, S., & Buck, C. (1989). A traição da inocência: o incesto e sua devastação. Rio de Janeiro: Rocco.

Garbarino, J., Kostelny, K., & Dubrow, N. (1991). What children can tell us about living in danger? American Psychologist, 46 (4), 376-383.

Gonçalves, H. S., & Ferreira, H. L. (2002). A notificação da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes por profissionais da saúde. Cadernos de Saúde Pública, 18 (1), 315-319.

Green, A. H., Coupe, P., Fernandez, R., & Stevens, B. (1995). Incest revisited: delayed pos-traumatic stress disorder in mothers following the sexual abuse of their children. Child Abuse & Neglect, 19 (10), 1275-1282.

Habigzang, L. F., & Caminha, R. M. (2004). Abuso sexual contra crianças e adolescentes: conceituação e intervenção clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Habigzang, L. F., Koller, S. H., Azevedo, G. A., & Machado, P. X. (2005). Abuso sexual infantil e dinâmica familiar: aspectos observados em processos jurídicos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21 (3), 341-348.

Hammen, C. (2003). Risk and protective factors for children of depressed parents. In S. S. Luthar (Org.), Resilience and vulnerability: adaptation in context of childhood adversities (pp.50-75). New York: Cambridge University Press.

Hiebert-Murphy, D. (1998). Emotional distress among mothers whose children have been sexually abused: the role of a history of child sexual abuse, social support, and coping. Child Abuse & Neglect, 22 (5), 423-435.

Koller, S. H. (2000). Violência doméstica: uma visão ecológica. In Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (Amencar) (Org.), Violência doméstica (pp.32-42). Brasília: Unicef.

Koller, S. H., & De Antoni, C. (2004). Violência intrafamiliar: uma visão ecológica. In S. H. Koller (Org.), Ecologia do desenvolvomento humano (pp.293-310). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Kreklewetz, C. M., & Piotrowski, C. C. (1998). Incest survivor mothers: protecting the next generation. Child Abuse & Neglect, 22 (12), 1305-1312.

Leifer, M., Kilbane, T., & Grossman, G. (2001). A three-generational study comparing the families of supportive and unsupportive mothers of sexually abused children. Child Maltreatment, 6 (4), 353-364.

Leifer, M., Kilbane, T., & Kalick, S. (2004). Vulnerability or resilience to intergeneration sexual abuse: the role of maternal factors. Child Maltreatment, 9 (1), 78-91.

Lewin, L., & Bergin, C. (2001). Attachment behaviors, depression, and anxiety in nonoffending mothers of child sexual abuse victims. Child Maltreatment, 6 (4), 365-375.

Narvaz, M. G. (2005). Submissão e resistência: explodindo o discurso patriarcal da dominação feminina. Dissertação de mestrado não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Newcomb, M. D., & Locke, T. F. (2001). Intergenerational cycle of maltreatment: a popular concept obscured by methodological limitations. Child Abuse & Neglect, 25 (9), 1219-1240.

Oates, R. K., Tebbutt, J., Swanston, H., Lynch, D., & O'Toole, B. (1998). Prior childhood sexual abuse in mothers of sexually abuse children. Child Abuse & Neglect, 22 (11), 1113-1118.

Padilha, M. G. S., & Gomide, P. I. C. (2004). Descrição de um processo terapêutico em grupo para adolescentes vítimas de abuso sexual. Estudos em Psicologia, 9 (1), 53-61.

Pfeiffer, L., & Salvagni, E. P. (2005). Visão atual do abuso sexual na infância e adolescência. Jornal de Pediatria, 81 (Supl. 5), 197-204.

Pintello, D., & Zuravin, S. (2001). Intrafamilial child sexual abuse: Predictors of postdisclosure maternal belief and protective action. Child Maltreatment, 6 (4), 344-352.

Pires, J.M. (2000). Violência na infância: Aspectos clínicos. In Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (Amencar) (Org.), Violência doméstica (pp.32-42). Brasília: Unicef.

Reppold, C. T., Pacheco, J., Bardagi, M., & Hutz, C. S. (2002). Prevenção de problemas de comportamento e desenvolvimento de competências psicossociais em crianças e adolescentes: uma análise das práticas educativas e dos estilos parentais. In C. S. Hutz (Org.), Situações de risco e vulnerabilidade na infância e na adolescência: aspectos teóricos e estratégias de intervenção (pp.7-51). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Renner, L. M., & Slack, K. S. (2006). Intimate partner violence and child maltreatment: understanding intra and intergenerational connections. Child Abuse & Neglect, 30 (6), 599-617.

Sanderson, C. (2005). Abuso sexual em crianças: fortalecendo pais e profissionais para proteger crianças de abusos sexuais. São Paulo: M. Books do Brasil.

Sociedade Brasileira de Pediatria. (2001). Guia de atuação frente a maus-tratos na infância e adolescência (2a. ed.). Rio de Janeiro.

Steel, J., Sanna, L., Hammond, B., Whipple, J., & Cross, H. (2004). Psychological sequelae of childhood sexual abuse: abuse-related characteristics, coping strategies, and attributional style. Child Abuse & Neglect, 28 (7), 785-801.

Downloads

Publicado

2008-12-31

Como Citar

SANTOS, S. S. dos ., & DELL’AGLIO, D. D. . (2008). Compreendendo as mães de crianças vítimas de abuso sexual: ciclos de violência. Estudos De Psicologia, 25(4). Recuperado de https://seer.sis.puc-campinas.edu.br/estpsi/article/view/7038