A tradição calvinista é intolerante? Uma breve contribuição à análise crítica da autorreferencialidade reformada | Is the Calvinist tradition intolerant? A brief contribution to the critical analysis of reformed self-reference
DOI:
https://doi.org/10.24220/2447-6803v45e2020a4792Palavras-chave:
Cristianismo reformado. Pós-estruturalismo. Teologia política.Resumo
Este artigo indica, sob uma perspectiva pós-estruturalista, uma possibilidade de articulação entre tópicos teológicos do calvinismo e seus desenvolvimentos posteriores, levando em conta, à luz do conceito laclauniano de articulação hegemônica, as questões engendradas nas tensas relações entre tolerância, intolerância e as lógicas autorreferenciais presentes na matriz teológica conservadora e dogmática de setores específicos do protestantismo brasileiro. Ainda, considera a viabilidade de uma releitura, desde a ótica pós-estruturalista, dos dinamismos culturais presentes nos ideais dessa nova forma de espiritualidade, com a indicação de uma alternativa ecumênica e progressista. Como a mistificação do discurso religioso protestante se baseia na ocultação, entre os fiéis reformados brasileiros, das instituições mais criativas e dinâmicas da Reforma, o texto caminha no sentido de uma “crítica imanente”, sem ignorar o destaque dado, na atualidade, à importância da gramática dos direitos humanos na consolidação de uma cultura pública secular, na dialética da secularização (e dessecularização).
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