Fonte
DOI:
https://doi.org/10.24220/2595-9557v6a2023e7480Resumo
“Fonte” é um ensaio fotográfico realizado ao longo da minha pesquisa de mestrado e compõe uma investigação teórico-prática. Diante de questões sobre a natureza da câmera fotográfica e seu papel dentro de um processo inventivo, não restrito à técnica, busquei me aprofundar em aspectos filosóficos, históricos e poéticos com o propósito de estabelecer um outro tipo de relação com esse objeto.
A câmera fotográfica é um dispositivo técnico capaz de atuar junto com o ser humano ampliando sua percepção e capacidade de criação. Um corpo-câmera em relação ao ser e ao espaço que participa do processo inventivo de imagens. Essa ideia tem no autor Gilbert Simondon (2020) um apoio importante, visto que, para ele, os objetos técnicos devem ser considerados como parte da cultura e não apenas por sua utilidade e função. Transpondo para o fazer em arte, e utilizando uma imagem metafórica, a câmera é um corpo que me permite ver algo além do que os olhos podem captar. Além disso, no ensaio “Fonte”, é parte de um processo que envolve outros corpos, ou seja, o meu próprio e o corpo das pessoas observadas e fotografadas. Revela a existência de uma relação orgânica capaz de mobilizar conexões em prol de uma poética, um fator determinante que conduz meus deslocamentos em aproximações e distanciamentos, conforme o processo inventivo vivenciado.
Trata-se de uma pesquisa que evidencia reflexões sobre o processo de criação, tendo como referência a abordagem de Cecilia Salles (2008, 2011): a reflexão se expande para o momento anterior e posterior da tomada fotográfica, onde as escolhas indicam um percurso poético, seja durante a elaboração, na captura ou na edição. Há um olhar atento às experiências pessoais, sendo que o estabelecimento de nexos entre pensamentos, imagens e acontecimentos conduz a construção de narrativas.
Uma fonte em uma praça surge como espaço de experimentação e invenção de imagens. Porém, as imagens de “Fonte” surgem como uma nova realidade, que não guardam relação com o que é visto a olho nu no momento da captura, justamente pela presença do dispositivo fotográfico. Trata-se de reconhecer um fazer em arte próximo da ideia de artificar, isto é, “tornar a realidade ordinária em extraordinária” (BROWN; DISSANAYAKE, 2009, p. 46). No ensaio aqui apresentado, fonte é uma metáfora de um espaço cíclico em constante renovação para o nascer de novas imagens concretizadas em fotografias. Uma ideia que se aproxima do que diz Gaston Bachelard,
A água é uma matéria que vemos nascer e crescer em toda parte. A fonte é um nascimento irresistível, um nascimento contínuo. Imagens tão grandiosas marcam para sempre o inconsciente que as ama. Suscitam devaneios sem fim. (BACHELARD, 1997, p. 15).
Esta ideia pode ser transposta para as imagens capturadas, que acontecem no mesmo espaço onde há esse nascimento contínuo da água, ou seja, estão em constante renovação tanto no momento de elaboração e captura quanto posteriormente, no olhar de quem as vê.
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Referências
Bachelard, G. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Dissanayake, E. The concept of artification. In: Malokti, E.; Dissanayake, E. Early rock art of the American west: the geometric enigma. Seattle: University of Washington Press, 2018. Livro digital.
Simondon, G. Do modo de existência dos objetos técnicos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2020.
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