Implicações do consumo e percepção ecológica para o manejo de tartarugas marinhas no litoral norte de São Paulo
Palavras-chave:
Tartarugas marinhas, By-catch, Conhecimento ecológico, Captura acidentalResumo
Comunidades pesqueiras tradicionais, em geral, possuem conhecimento ecológico sobre os recursos explorados, ainda que eles não sejam alvo da pescaria. Uma vez que características pessoais e culturais podem determinar o consumo das capturas e o conhecimento a ela relacionado, espera-se que pescadores mais velhos possuam maior conhecimento e hábitos de consumo mais arraigados. Esse trabalho objetivou coletar informações em cinco comunidades de pescadores do litoral norte de São Paulo, onde existe o emalhe de tartarugas marinhas para testar se: i) há diferença no consumo de tartaruga marinha; ii) características socioeconômicas determinam este consumo; e iii) a percepção ecológica depende de características socioeconômicas dos entrevistados/informantes. O consumo de tartarugas marinhas é distinto e inversamente correlacionado ao relato do emalhe das tartarugas ao Tamar (Pearson r=-0,9; p<O,05) e parece ser influenciado pela distãncia da costa em que a captura deste animal ocorre (e não por fatores socioeconómicos). A idade, escolaridade e anos de pesca determinaram o conhecimento ecológico sobre as tartarugas marinhas, de forma que pescadores mais jovens e com mais anos de estudo conhecem mais sobre alimentação, visto que Ubatuba é área de forrageio desta espécie e não de ciclos reprodutivos. Esse resultado contrariou as premissas de que os pescadores mais velhos com mais anos de pesca teriam maior conhecimento ecológico. Embora haja o emalhe de tartarugas nas redes de pesca em todas as comunidades, no ltaguá e Cedro este emalhe caracteriza um by-catch, já que os animais capturados são soltos após registro pela equipe do Tamar.
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